24/02/2014

"UMA LUZ DENTRO DO PEITO" Margarida Rebelo Pinto

"Amor é afecto. Amor é apego. Mas não tem necessariamente de ser uma dependência. Com escreveu o poeta Pablo Neruda, enamorei-me da vida porque é a única que tenho a certeza que não me vai deixar antes de eu o fazer. Ter medo de perder aqueles que amamos é o preço a pagar pelo amor que lhes temos. Por isso há quem não consiga entregar-se totalmente, antecipando o medo da perda. Estes mecanismos de protecção devem ser usados com conta, peso e medida e mais em função do que a outra pessoa nos dá do que em eventuais traumas que cada um de nós carrega. Ou seja, existe uma dinâmica própria em cada relação é preciso perceber como funciona. 
Existem relações que são apenas de cama e de cumplicidade, sem apego emocional? Os homens gostam de pensar que sim, mas nem todas as mulheres têm essa capacidade. Os homens ligam-se e desligam-se mais facilmente do que as mulheres. Mesmo que amem profundamente a sua mulher, se estiverem absorvidos pelo trabalho ou por um monte de problemas, põem essas realidades fora da relação. Com as mulheres é diferente: existe uma necessidade de continuidade e de harmonização. Por isso sofrem com a atenção descontínua, por isso preferem cortar com uma relação ocasional ou exigir mais da mesma, porque é algo que não as preenche. 
Nunca se falou tanto de amor e no entanto, nunca acreditei tanto como agora que o amor é um bem escasso. Amor não é paixão, nem atracção, nem desejo, nem entusiamo. E também não é ausência, nem sonho, nem sofrimento. As mulheres que acreditam que ainda vão conseguir conquistar um homem que nunca as amou deviam aprender a gostar mais de si mesmas, porque ninguém consegue obrigar ninguém a amar. Quando nos apaixonamos e essa paixão é recíproca, quando o tempo joga a favor da relação e ela se vai fortalecendo, quando apesar dos meses ou anos, sempre que vemos o outro a entrar pela porta se acende uma luz dentro do peito, quando só conseguimos imaginar-nos a dormir agarrados àquela pessoa, quando o seu sorriso se mantém fresco e a sua voz meiga, quando, apesar das diferenças entre os dois, ambos se sentem mais felizes um com o outro do que separados, estão isso já pode ser uma história de amor. O grande desafio para os casais que se querem manter unidos é encontrar a combinação certa de autonomia e intimidade. E cada relação é como um cofre: tem a sua chave, a sua combinação, o seu segredo. 
É preciso saber ser autónomo, depender o menos possível do outro, o que é diferente de precisarmos dele. Todos precisamos uns dos outros, na família, na amizade, no trabalho e também no amor. Por isso se criam equipas em tudo, e por isso diz a sabedoria popular que em equipa vencedora, não se mexe. Não acredito que alguém consiga ser feliz sozinho, porque nenhum homem é um ilha e ninguém é tão rico que não precise do vizinho. 
Uma relação saudável deve ter tanto de leve como de séria, tanto de riso como de siso, tanto de espaço como de tempo. Espaço para cada um viver feliz na sua autonomia e tempo de partilha para que juntos possam construir o amor que querem viver. O mais importante é conseguir manter o equilíbrio entre o amor pelo outro e amor-próprio, dizendo ao outro o que sentimos para que a intimidade cresça como uma árvore, sólida e resistente a qualquer tempestade."

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